sexta-feira, 21 de agosto de 2015

CULTURA DA VIOLÊNCIA

CULTURA DA VIOLÊNCIA

A psicóloga Dra. Marisa Feffermann, orientanda da Psicóloga Dra. Sylvia Leser de Mello desenvolveu sua tese de doutorado pesquisando a contextualização da cultura da violência através do narcotráfico. O jovem no tráfico de drogas.
"É a falta de trabalho, mais que entrar no mundo do crime, entram no mundo do trabalho. Nossa cultura valoriza o TER em detrimento do SER; se você tiver...você é considerado gente.
Todo jovem quer ser reconhecido. Hoje isso se dá pela forma. Compre isso para você ser legal. O local da moradia é determinante para essa realidade como fator de discriminação, de constrangimento. Mostra a vulnerabilidade do jovem de baixa renda.
Houve mudanças no circuito da criminalidade: o Crime Organizado. A definição real de crime organizado é que só existe crime organizado se houver o braço do Estado. Há um limiar tênue entre a LEI e as regras que modelam as condutas sociais e as individuais. O braço do Estado permite a lavagem de dinheiro. O mundo do tráfico é um protótipo da sociedade de consumo. Expressa toda a violência nela embutida e produz ainda mais violência.
A compreensão da vulnerabilidade do jovem é necessária e se dá pela sua contextualização. A sexualidade passa a ser vulnerabilidade quando abordada de maneira preconceituosa, meramente reprodutiva; quando abordada de modo estereotipado. A maternidade, a paternidade, dá um sentimento de pertencer a algo, é um sentimento de proteção, de estar protegido, de poder proteger. De pertencimento.
Assim como a inserção no local de trabalho.
Em 1997, Crochik escreveu: " O preconceito se caracteriza pela hostilidade manifesta ou sutil pelos mais frágeis. Ele é o que pode morrer, o que não faz diferença". É igual no tráfico de drogas.
Pesquisando o microtráfico na periferia de SP e RJ e suas características em termos de urbanização mostra que a urbanização é segregadora. Segundo dados do DENARC os microtraficantes  e  sua inserção no mundo do trabalho têm servido para a acumulação de capital. Eles não morrem de AIDS, morrem pela violência do tráfico.
São vendedores, têm obrigações e seguem regras de trabalho. É um contrato social. As formas que regulam as relações sociais no microtráfico são constituídas de regras claras, podem ser exacerbadas, cruéis, mas são claras. Não conhecem o patrão, só o gerente. Têm que ter olhar, postura. São respeitados. Tem o matador. A crueldade é um espetáculo, é uma resposta à humilhação.
subjetividade é constituída por comportamentos compulsivos, talvez por conta do risco... O dia de amanhã não existe. Desenvolvem a astúcia como estratégia para poder sobreviver, para contornar situações opressivas do cotidiano; o que lhes permite tomar decisões até nas piores situações. O risco é constante, a vida tem que ser vivida intensamente. Arriscar-se vale pelo que se ganha. Vivem em estado de alerta. Sob estresse. Denunciam a subjetividade da sociedade atual. 
Vive-se numa barbárie.
Entra no tráfico porque quer estar inserido, pertencente a algo e não viver à deriva.
São eles considerados os grandes responsáveis pela mídia.
A juventude procura modelos identificatórios.
A mídia sabe e vive disso.
Um suspiro de alívio, a MÃE é o lugar de pertinência; é pela mãe que eles saem do tráfico.
A abordagem da Psicologia visa compreender em vez de julgar e condenar. O não julgamento leva a validar em vez de controlar. Validar significa amar. Controle não resolve.
Devemos desenvolver novas estratégias, novos padrões de funcionamento para o cérebro. Quem foi controlado aprende a controlar. O cérebro aprende e repete padrões. Devemos questionar os padrões. Ele polariza, e ao polarizar, exclui. Exemplo: o que é pior, crack ou cocaína ? Buscar culpados é outro padrão obsoleto,culpabilizar não resolve. É melhor identificar qual o mecanismo, respeitar as diferenças, o direito humano de se expressar."
Dialogar é partir da possibilidade de ambos mudarem de opinião, não imposição. 
Culpa é diferente de responsabilidade.

Escrito por Beth Toth às 16:12 em 29 de janeiro de 2007 - Ainda atual, né?

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